quarta-feira, 18 de abril de 2018

Crítica: Newness

Quase nenhum filme soube falar tão bem como é ter um relacionamento nos tempos atuais como este. 

por Fernando Labanca

O diretor Drake Doremus (Like Crazy, Equals) tem um olhar muito peculiar sobre relações amorosas. Além de trazer muita sensibilidade para suas histórias, há sempre um realismo extremo que tornam seus personagens e as situações em que vivem tão próximos de nós. "Newness" pode não ser uma obra-prima do cinema e presente no catálogo extenso da Netflix, pode até não alcançar tanta gente. No entanto, há algo que precisamos considerar que é um grande feito aqui, sua honestidade ao falar sobre amor. Não me lembro a última vez em que vi um filme que falou tão bem sobre isso, que expôs, com tamanha verdade, o que é dividir a vida com alguém. 

Aqui os protagonistas se conhecem como itens de uma enorme vitrine. Como produtos a serem logo descartados. Quase que viciados em aplicativos de encontros, Martin (Nicholas Hoult) e Gabi (Laia Costa) buscam uma transa rápida, algo que lhes traga uma satisfação momentânea. Quando o match, enfim, acontece, a química entre os dois é nítida, o que inevitavelmente acaba fluindo para uma relação. Um tempo depois, passam a dividir o mesmo apartamento, porém, sem grandes surpresas, a vida entre eles alcança o tédio e em uma tentativa de reascender o que sentiam no começo, decidem abrir o relacionamento, lhes permitindo conhecer outras pessoas, fugindo assim, da mesmice que um casamento pode ser. 

Me senti chocado e tocado por cada cena de "Newness", justamente porque a obra é um reflexo muito exato do que somos, do que vivemos e do que acreditamos. Martin e Gabi fazem parte de uma geração que busca por novidades, que se cansa fácil do que já tem. É a sociedade do consumo, que deseja algo rápido, que usa e logo joga fora. Drake Doremus fala com precisão sobre os amores líquidos e a estranha facilidade que temos em perder tesão em algo que pouco tempo antes nos preenchia. Talvez a própria tecnologia nos transformou nisso. A novidade está constantemente ao nosso alcance. Se acostumar com algo velho ou aceitar a rotina parece um sintoma de cegueira. Vivemos em uma época em que casamento é visto como prisão, como o contrato oficial do tédio. O filme, então, parece questionar como escrever uma história de amor no tempo em que relações estão fadadas ao fracasso. No tempo em que se mostrar frio e distante é sinônimo de fortaleza, de coragem. Aquele desprezo doentio que se confunde com autossuficiência.


A história dos dois é uma história de amor possível. Eles se amam e isso deveria ser o necessário. Não é. Nunca é. Falta atenção, interesse. Falta aquela dose de esforço diário que esquecemos sempre.  É doloroso acompanhar a jornada do casal, em como eles machucam, se destroem. Viver uma vida a dois requer tão mais que só amor e sofremos porque vemos ali na tela duas pessoas que querem estar uma com a outra, mas não estão dispostas a ceder. As discussões entre os dois são incrivelmente verdadeiras e alcançam um nível alto de brilhantismo. É interessante, também, o debate da obra acerca dos relacionamentos abertos e sobre a poligamia. Sobre esta ideia de que a vida é curta demais para amarmos uma única pessoa. 

A química entre os dois atores é a grande arma do filme, que nos faz vibrar por cada etapa que enfrentam. Nicholas Hoult é sempre incrível, mas é Laia Costa quem brilha. A atriz é uma mistura intrigante de delicadeza e fúria. Fiquei emocionado por sua entrega e por cada momento em que está em cena. Drake Doremus continua muito sensível ao falar de amor e poucos cineastas transmitem tão bem este sentimento para a tela como ele. No final da obra senti o impacto. É intenso, honesto e profundamente humano. A fotografia e a bela trilha sonora ajudam a compor este filme que não tem a pretensão de ser memorável, mas ao menos atinge com perfeição sua proposta. Ser o retrato fiel dos relacionamentos amorosos dos tempos atuais. Será difícil achar um outro que fale tão bem quanto este. Uma preciosidade rara. Um achado.

NOTA: 9



País de origem: EUA
Título original: Newness
Ano: 2017
Duração: 117 minutos
Distribuidor: Netflix
Diretor: Drake Doremus
Roteiro: Ben York Jones
Elenco: Laia Costa, Nicholas Hoult, Matthew Gray Gubler, Danny Huston




OBS: O filme é dedicado ao ator Anton Yelchin, com quem o diretor trabalhou em "Like Crazy", e faleceu em 2016. 

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