quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crítica: Um Mergulho no Passado (A Bigger Splash, 2015)

Inspirado no filme francês "La Piscine" de 1969, temos aqui uma das obras mais ousadas e provocativas do ano. 

por Fernando Labanca

Apesar de ter sido lançado em festivais em 2015, o longa dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, só conseguiu chegar este ano no Brasil. Fazia um bom tempo que queria conferir o filme que já havia me chamado a atenção pelo elenco e pelo trailer. Os atores se destacam em uma trama intrigante que envolve quatro personagens, vividos pelos britânicos Tilda Swinton e Ralph Fiennes, pela norte americana Dakota Johnson e pelo belga Matthias Schoenaerts. Gosto desses filmes que me lembram uma peça de teatro, que não permite que seus personagens escapem de seus limites muito bem demarcados, sendo obrigados e se enfrentarem dentro deste pequeno espaço. O cenário é uma província italiana, com belas paisagens e uma casa que abriga uma piscina. É nesta piscina que grandes eventos ocorrem, que sentimentos são expostos e algumas verdades são ditas.


Marianne Lane (Swinton) é uma famosa cantora de rock, que deixou seus anos dourados para trás e tenta viver tranquilamente com seu namorado (Schoenaerts). Seu novo estilo de vida pacato, porém, não convence seu ex, Harry (Fiennes), que resolve, sem aviso prévio, passar uns dias de descanso em sua casa, ao lado de sua recém descoberta filha (Johnson). O filme, então, narra os acontecimentos imprevisíveis destes dias intensos, onde as lembranças do passado retornam e os passos do futuro se tornam incertos. 

Cada um dos dois lados de um EP possui seis canções. O roteiro faz aqui uma interessante analogia a isso, onde a protagonista, cantora de rock, teve sua vida amorosa dividida por dois homens, cada um com suas características, durante seis anos cada. E cada lado deste álbum possui seus altos e baixos e ambos representam uma vida completamente diferente. Marianne, então, precisa lidar, dentro de um espaço pequeno, com seu passado e presente. Neste sentido, é conflituoso todas essas relações, onde nos olhares e pequenos gestos parecem esconder toda uma história e inúmeras intenções não reveladas. Todos os personagens aqui são ambíguos e nada é claro o suficiente para qualquer tipo de julgamento. Seja do pai que trata a filha desconhecida com um certo desejo, seja da ninfeta que parece seduzir tudo aquilo que é proibido, seja do homem que não aceita o rumo que a vida de sua ex tomou. Nada exige resoluções fáceis e o roteiro brilha quando insere naturalidade e espontaneidade neste grupo de indivíduos, que age com uma certa felicidade sobre o momento atual, mas que nitidamente lutam por dentro por uma nova ruptura, uma mudança, um novo rumo que lhes tire de onde estão.


O química entre os atores funciona e é um dos pontos fortes do filme. O elenco oferece atuações sólidas e se entregam a seus belos personagens. Dakota Johnson surpreende, aparece sexy e distinta de sua Anastasia de "50 tons" e isso é ótimo. Matthias Schoenaerts sempre introspectivo, mas não decepciona. No entanto, o palco é mesmo dos veteranos Ralph Fiennes e Tilda Swinton, que brilham, divertem e seduzem em cena. Aliás, todos eles se despem literalmente e o diretor revela seus corpos nus de forma natural, às vezes até impactante, mas sem glamour e que, de certa forma, é ousado por quebrar alguns tabus do cinema atual.

"A Bigger Splash" é o primeiro sinal de Luca Guadagnino em Hollywood e tudo indica que o próximo ano será seu com o lançamento do aguardado e já elogiado "Me Chame Pelo Seu Nome". Aqui ele já prova ser um excepcional diretor e mesmo tendo um mãos uma trama tão simples - brilhantemente escrita, aliás - entrega sequências revigorantes e cheias de energia e personalidade. Poucas obras que vi este ano provaram tamanho poder. É sexy, insano, visceral. A cena em que Ralph Fiennes dança, enquanto escuta sua amada canção do Rolling Stones, sintetiza a força da obra. É um momento estranhamente memorável, que remete a liberdade dos bons musicais e encanta por ser tão vibrante.

NOTA: 8,5


País de origem: França, Itália
Duração: 125 minutos
Distribuidor: -
Diretor: Luca Guadagnino
Roteiro: David Kajganich
Elenco: Tilda Swinton, Ralph Fiennes, Matthias Schoenaerts, Dakota Johnson. 






Obs: Tanto o diretor Luca Guadagnino e o roteirista David Kajganich, ao lado das atrizes Tilda Swinton e Dakota Johnson, voltam a se encontrar no remake do filme de terror "Suspiria", que está em pós-produção e tem lançamento previsto para o ano que vem. 


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