terça-feira, 26 de abril de 2016

Crítica: O Fim da Turnê (The End of The Tour, 2015)

Em 1996, o jornalista David Lipsky viajou ao lado do renomado escritor David Foster Wallace durante sua última turnê de divulgação de seu livro. Esse filme é sobre esta viagem e sobre tudo o que você conseguir absorver dela.

por Fernando Labanca

A trama se inicia quando é anunciado a morte do escritor David F. Wallace. Quando recebe a notícia, o também escritor e jornalista David Lipsky relembra do momento em que conheceu aquele excêntrico homem. 1996, quando Lipsky trabalhava na revista Rolling Stone, decide escrever sobre o autor do momento naquela época, quando lançava sua obra-prima "Infinite Jest" e estava prestes a finalizar sua turnê de divulgação pelos Estados Unidos. É então que o jornalista, surpreendentemente, consegue este encontro, viajando lado a lado com este ser que tanto o fascina e o inspira.


Antes de mais nada, "O Fim da Turnê" é um filme verborrágico. Podemos resumir a obra, facilmente, entre dois escritores dialogando do começo ao fim. São conversas, pensamentos, discussões e é preciso estar atento para acompanhar o raciocínio dos personagens. Tudo isso pode parecer uma crítica, mas não é, pelo contrário, é exatamente isso que torna a obra tão interessante. É poder acompanhar a conversa entre duas mentes brilhantes, que às vezes divagam sobre assuntos aleatórios e nem sempre encontram a melhor forma de se expressarem, onde no fim tudo acaba parecendo um grande embate. Embate entre pensamentos tão distintos, sobre carreira, futuro, relacionamentos, sobre fama e como gostam de serem vistos, serem compreendidos. Foster Wallace é um misto de um ser arrogante e amigável, seu jeito de agir e tudo o que fala nos faz compreender Lipsky, pois nos faz querer ficar ali, tentar entender sua mente, entender o que o move, se alimentar da mesma fonte que o fortalece. O fato de David Lipsky também ser um escritor faz deste encontro ainda mais interessante, pois a experiência daquele que entrevista o faz refletir sobre muitas coisas, o faz se colocar na mesma posição e desta forma, se mostra um pouco enciumado sobre suas conquistas.

A grande complexidade desta relação é que Lipsky quer estar onde Wallace está e Wallace não compreende exatamente onde está, não vê muita lógica em sua existência, parece sempre querer algo melhor do que já tem. Existe também a questão do jornalista tentar ali, naquela desastrosa entrevista, tentar extrair de dentro de seu entrevistado um personagem, um ser polêmico, tudo o que Wallace não é. Ele é apenas um homem comum, exatamente o que uma revista jamais publicaria, o que, curiosamente, acaba acontecendo, a entrevista realizada jamais fora impressa. Apesar de narrar um acontecimento de vinte anos atrás, vejo esses conflitos vividos pelos personagens muito atuais, logo que existe um descontentamento muito grande na nossa geração, desta sensação de não querer estar onde está, de não ver sentido na profissão e acabar sempre vendo as conquistas alheias como medidor de sucesso. O longa traz um tom, além de intimista, bastante melancólico sobre esses seres, por isso é tão fácil se identificar com o que dizem, mesmo que vivendo situações diferentes das nossas. Aliás, o roteiro acerta ao construir personagens tão únicos, nada é óbvio em suas discussões e o longa nunca se permite cair no clichê, é sempre muito autêntico. Existe, também, uma naturalidade fascinante estre os atores em cena, Jason Segel e Jesse Eisenberg seguram muito bem o filme. Segel, por sua vez, não consegue se ver livre de todos os seus trejeitos de "comediante", mas convence ao dar vida ao escritor, traz verdade aos diálogos, assim como Eisenberg, que surpreende.

O diretor James Ponsoldt (Smashed, O Maravilhoso Agora) tem guiado sua carreira de forma bastante admirável, existe algo muito único em suas obras, existe uma sensibilidade e uma comoção sutil que inspira. "The End of the Tour" é seu trabalho mais consistente até agora e prova ser um diretor a se prestar mais atenção. Confesso que gosto desses filmes de "conversa", dois personagens em cena e dois atores colocando o coração ali, é sempre gostoso ouvir o que um diálogo ficcional tem a dizer sobre a vida real, é nesse momento em que paramos para pensar em nossa própria existência. Não sei explicar exatamente o que aconteceu, mas quando terminou me senti estranho, me senti compreendido, vi um filme sobre solidão e sobre encontrar uma pessoa que nos oferece, por um breve instante, AQUELA conversa, aquela troca de experiência que poderia ser eterna, que nos faz sentir aceito, nos faz sentir acolhido. O texto final sintetiza bem esta ideia e é por ela que me afeiçoei tanto a obra.

NOTA: 8,5



País de origem: EUA
Duração: 106 minutos
Distribuidor: Sony Pictures
Diretor: James Ponsoldt
Roteiro: Donald Margulies
Elenco: Jesse Eisenberg, Jason Segel, Joan Cursack, Mamie Gummer, Anna Chlumsky





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