quinta-feira, 11 de junho de 2015

Crítica: O Predestinado (Predestination, 2014)



- "Quem nasceu primeiro...o ovo ou a galinha?
- "O galo"

Para quem ainda não assistiu "O Predestinado", recomendo assistir sem saber nada, sem ler qualquer sinopse ou comentário. Foi exatamente o que fiz e confesso, foi uma viagem surpreendente, que me deixou extasiado durante seus minutos e feliz por finalmente ver uma obra tão diferente, dessa mistura louca de drama, ação, suspense e ficção científica. Uma história tão fantástica que de tantas perguntas que me deixou no final, a mais cruel de todas foi: por que diabos que ninguém está falando sobre este filme ainda?

por Fernando Labanca

Um agente temporal (Ethan Hawke) sofre um acidente em sua última missão, quando precisava desativar uma bomba, queimando seu rosto e o desfigurando completamente. Depois de várias cirurgias e com um rosto irreconhecível, ele passa a trabalhar, aparentemente, como bartender. É, então, que no balcão de seu bar surge John (Sarah Snook), que promete lhe contar a melhor história que ele já ouviu, cantando sobre sua difícil infância e todos os percalços que o levaram até ali. Após ouvir tudo, o agente lhe oferece sua própria missão, voltar no tempo, lhe dando a chance de se colocar frente a frente com aquele que arruinou sua vida.


A pequena sinopse que escrevi é absolutamente nada perto da grandeza que o filme alcança, mas preferi fazer uma pequena introdução e não estragar qualquer surpresa que a obra possa oferecer. E digo te antemão, são muitas surpresas. E que surpresas! Fazia tempo em que um roteiro não me surpreendia tanto quanto este, a cada momento, uma nova informação, e a cada nova informação um novo choque. Existem, em seu desenvolvimento, inúmeros pontos de reviravolta e é brilhante como todos funcionam, é de uma inteligência muito rara quando pensamos no atual cenário da ficção científica. Confesso que fiquei de boca aberta por vários instantes, pois simplesmente me recusava a acreditar em tudo o que estava vendo. É uma viagem das boas, que entregam mais perguntas do que respostas, e isso é muito bom, faz o público pensar e refletir sobre tantas coisas. O filme terminou e eu não conseguia pensar em outra coisa, fiquei voltando ao início e indo de volta ao final, tentando juntar as pontas e tentando achar algum sentido nesta trama extremamente confusa e intrigante, daquelas de explodir os miolos e bugar o cérebro.

Baseado no conto "All You Zombies" de Robert A. Heinlein, o longa conta com a direção dos irmãos Peter e Michael Spierig, os mesmos de "Daybreakers" (2010), e visualmente falando, as duas obras me pareceram bem semelhantes. Os irmãos também assinaram o roteiro e merecem destaque por isso, trata-se uma obra única, que trabalha muito bem com suas ideias, por mais mirabolantes que elas sejam, é tudo extremamente bem desenvolvido na tela. Diferente de muitas ficções científicas recentes, "Predestination" acerta pelo cuidado em contar sua trama e por conseguir inovar mesmo se tratando de uma tema já muito batido no gênero, a viagem no tempo. Quando a personagem de Sarah Snook entra no bar prometendo a melhor história de todas, até me pareceu um ato pretensioso, mas felizmente, o próprio filme supera esta expectativa, entregando, a partir dali, uma belíssima narração, que nos prende a atenção e não nos permite escapar nem por um segundo. É muito curiosa a trajetória de sua personagem, Jane, John e tudo o que nasce através dela, e é também, muito ousado sua construção, seus receios, suas frustrações, sua eterna busca por aceitação, aceitação de si mesma, sua busca por amor e algum propósito que preencha sua vida vazia. Chega a ser comovente tudo o que ela tem a dizer. Para quem ainda não viu, é estranho ler isso, mas Jane/John é como uma cobra que come a própria cauda, é o paradoxo que a trama sempre nos alerta desde seu início, e é preciso estar atento a cada passo dado pela personagem.


Ethan Hawke está ótimo na pele do agente, principalmente nas cenas finais, vi uma força e versatilidade que não conhecia do ator. Mas o grande destaque do filme é, com toda a certeza, Sarah Snook. Não sabia da existência desta atriz e foi uma grande surpresa vê-la em cena, neste papel tão intenso, cheio de nuances. Na verdade, há muito o que dizer sobre ela, há muito o que dizer sobre o que Sarah realiza aqui, nesta que é umas atuações mais impactantes que tive o prazer de ver este ano, um belíssimo trabalho. Além das excelentes atuações, o filme ganha pontos por sua estética, seus cenários, figurinos e maquiagem possuem um nível de dificuldade grande, devido as viagens no tempo, cada época foi necessário um cuidado diferente, provando, assim, a competência de toda a produção.

"O Predestinado", infelizmente, não passou pelos cinemas brasileiros - assim como outros tantos filmes bons - e por isso, acredito, que pelo boca a boca, com o tempo, quem sabe, poderá ser reconhecido. É o que eu espero e é o que esta obra merece. É confuso e provavelmente deixará o público sem as respostas ao seu final, aliás, acredito que não haja respostas, por mais que isso possa ser frustrante para alguns, a grande ideia aqui é justamente esta, nos deixar desolados com todos os seus argumentos e reflexões. Querer compreendê-lo é como querer saber quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, ou querer descobrir o exato sentido da vida.

NOTA: 9,5




País de origem: Austrália
Duração: 97 minutos
Distribuidor: Sony
Elenco: Sarah Snook, Ethan Hawke, Noah Taylor
Diretor: Michael Spierig, Peter Spierig
Roteiro: Michael Spierig, Peter Spierig


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