sexta-feira, 29 de maio de 2015

Crítica: Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015)

Muito bom quando isso acontece. Aquele blockbuster que ninguém espera nada, surge de repente e quando nos damos conta...todos estão falando sobre. E existe uma razão para esse sucesso repentino, por todo esse falatório, uma razão bem simples: "Mad Max: Estrada da Fúria" é um dos melhores filmes de ação que tivemos a chance de ver nos últimos anos. Vemos aqui um cinema raro, uma insana, eletrizante e magnífica obra de arte.

por Fernando Labanca

São exatos trinta anos que separam este filme da antiga trilogia, estrelada por Mel Gibson. Apesar de ser considerado um reboot, também podemos vê-lo como uma sequência, logo que a trama sempre permitiu isso, nunca oferecendo um final para Max, deixando sempre assim, uma possibilidade de retorno, no mesmo universo, vivendo sob o mesmo transtorno. O responsável por trazer novamente o personagem às telas do cinema é o diretor George Miller, que já havia realizado os três primeiros capítulos. Confesso que sou contra ressuscitar obras do passado, entretanto, assim como eu, acredito que ninguém esperava que Miller pudesse retornar e fazer algo tão bom, tão único. Surpreendentemente, "Estrada da Fúria" é ainda melhor que os outros filmes, a trajetória mais épica e mais extraordinária já vivida por Max e como é bom ter a chance de ver isso no cinema. George Miller ensinou na década de 70 como se fazia um bom filme de ação e volta agora para trazer um novo frescor ao gênero, tanto narrativo quanto estético. Depois de tantos blockbusters descartáveis, finalmente uma obra que não insulta seu público e por fim, oferece muito mais do que estamos acostumados, nos oferece algo a admirar, algo a ser lembrado.

Ainda assombrado pela morte de sua esposa e filha, Max (agora na pele de Tom Hard) continua caminhando solitário pelas estradas devastadas, por este mundo sem lei dominado pelos loucos. Aqueles que sobrevivem, lutam por água e combustível, enquanto veneram o ser que poderá prover tudo o que almejam, o Immortan Joe, que por sua vez, explora esta população. Capturado e torturado por seu exército e usado como banco de sangue, o caminho de Max acaba se cruzando com a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), que mesmo aliada aos selvagens, decide fugir e salvar um grupo de mulheres usadas por Joe e com a ajuda deste misterioso homem, dá início a uma impiedosa e violenta batalha nas estradas, extraindo o que há de pior, de mais sádico e de mais louco nos guerreiros.


"Quando o mundo desabou, cada um de nós se quebrou de uma forma. 
Era difícil dizer quem estava mais maluco, eu ou todos os outros".

O que mais espanta em "Mad Max: Estrada da Fúria" é o visual de suas sequências, não há absolutamente nada igual ao que vemos aqui, são duas horas muito bem preenchidas, duas horas de cenas boas, incrivelmente boas. É natural ficar de queixo caído, perder a respiração, vibrar por cada movimento e torcer para que aquilo nunca acabe, se trata de um espetáculo, um show insano, empolgante e brutal. De fato, o longa eleva o nível daquilo que conhecemos como "um filme de ação", George Miller dá a chance de seu público ver uma obra de verdade, sem aquela plasticidade falsa, sem deixar com que seus atores conversem com o nada simulando qualquer coisa, sem permitir, nem apenas por um segundo, que seu produto seja ordinário ou pareça algo que já foi feito antes. Não, tudo é novo, grandioso, ousado, toda a equipe por trás de "Mad Max" compreendeu que as pessoas que vão ao cinema merecem mais, mais do que nos tem sido oferecido e diferente dos atuais blockbusters, Miller aposta em um cinema mais real, evitando o máximo a utilização de efeitos especiais e essa escolha é o que o torna tão único nos tempos de hoje. Sua câmera nervosa pouco descansa, constrói, na maioria das vezes, sequências alucinantes, com excelente ritmo, tudo muito bem coreografado e editado, E toda essa grandiosidade construída por Miller e sua equipe ganha contornos ainda mais épicos com sua trilha sonora, composta pelo músico holandês Junkie XL, inspirado pelo ópera rock, ele desenvolve um som tão explosivo quanto o que vemos em cena, são guitarras pesadas e bateria, é o caos em forma de música. Um trabalho brilhante.

Claro que George Miller não perderia a oportunidade de homenagear os primeiros filmes, e é muito interessante a maneira como suas referências são inseridas, como o volante do V8, a miniatura do Capitão Gyro e a participação marcante de Hugh Keays-Byrne, que havia interpretado o vilão no primeiro capítulo, retorna como Immortan Joe. Há algumas características que retornam também, como a ação desenfreada e os pouquíssimos diálogos, ainda que este traga a história mais interessante já vivida por Max, o roteiro é melhor desenvolvido, mais profundo e termina com boas reflexões. O que tem causado muitas discussões, aliás, é a presença forte de mulheres e como um gênero e uma saga tão voltada para os homens, de repente se tornou feminista. De fato, a grande protagonista de "Estrada da Fúria", surpreendentemente, é Charlize Theron e sua Furiosa. George Miller colocou uma mulher no volante, como aquela que resolve os problemas como ninguém, aquela que tem a coragem de enfrentar uma revolução, no fundo, o longa é basicamente sobre isso, sobre essas mulheres que lutam por liberdade, e junto a todos que as cercam, buscar por um mundo mais justo e igualitário. E em nenhum momento isso é um defeito, muito pelo contrário. 

A obra também se destaca por sua belíssima fotografia, além do magnífico trabalho de direção de arte, tanto pelo visual dos veículos, tanto pela maquiagem e figurinos. Quanto as atuações, é valido dizer que Tom Hardy foi uma ótima escolha para o papel, ele tem carisma para isso, entretanto, quem rouba a cena mesmo é Charlize Theron com sua excelente performance, assim como o jovem e talentoso Nicholas Hoult, que surpreende e entra em cena para dizer alguns diálogos memoráveis como "What a day. What a lovely day!" ou "I live, I die, I live again". "Mad Max: Estrada da Fúria" nos dá aquela vontade de levantar no final da sessão e começar a aplaudir, chega a ser comovente como um filme de ação que tinha tudo para ser um mero blockbuster, de repente se torna uma razão para acreditarmos no gênero novamente, se torna mais uma razão para admirarmos tanto a sétima arte. É épico, é cool, é insano. Vejam, ou melhor...TESTEMUNHEM!

NOTA: 9,5





"Aonde devemos ir...nós que peregrinamos buscando o melhor de nós?"






País de origem: Austrália, EUA
Duração: 120 minutos
Distribuidor: Warner Bros. 
Elenco: Charlize Theron, Tom Hardy, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne, Zoë Kravitz
Diretor: George Miller
Roteiro: Brendan McCarthy, Nico Lathouris, George Miller

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