sexta-feira, 24 de abril de 2015

Crítica: Sete Dias Sem Fim (This is Where I Leave You, 2014)

Depois de alguns meses afastado no blog, devido aos trabalhos finais da faculdade, finalmente consegui retornar e confesso que estava com muita vontade de escrever! Para isso, pensei em comentar sobre um filme que estava à espera por muito tempo, "Sete Dias Sem Fim", baseado num dos últimos bons livros que li.

por Fernando Labanca

Dirigido por Shawn Levy (Uma Noite no Museu, Gigantes de Aço), o longa é uma adaptação da obra de Jonathan Tropper, que aliás, também escreveu o roteiro. Minhas expectativas eram altas, não só pelo ótimo elenco que conseguiram reunir aqui, mas principalmente por se tratar de um livro que me encheu com diversas sensações, uma mistura muito bem orquestrada de drama e humor, e entre sarcasmos e discursos inspiradores, a trama escrita por Tropper tinha o poder de nos colocar ali dentro, íntimos daqueles personagens e estranhamente, nos fazia se identificar por algo da trama, e por diversos instantes, nos fazia pensar na própria vida.

Judd Altman (Jason Bateman) é um cara azarado que, do dia pra noite, perdeu tudo o que tinha, o trabalho e a esposa, assim que pegou no flagra sua mulher o traindo com seu chefe. Para piorar, recebe a notícia de que seu pai faleceu e que precisava retornar para sua cidade natal para a realização do Shivá, uma tradição judaica onde os membros da família se unem durante sete dias de luto. O problema é que os Altmans não se viam durante anos e nunca lidaram bem com a aproximação, é então que nesses sete dias, a mãe (Jane Fonda) e seus quatro filhos Judd, Paul (Corey Stoll), Wendy (Tina Fey) e Philip (Adam Driver), cada um com suas peculiaridades, terão que se aguentar, o que se torna o cenário perfeito para reviver brigas e conflitos do passado.


A velha história do personagem que retorna para a casa por causa da morte do pai e assim, precisa lidar com situações que ficaram para trás. Já vimos isso em muitos outros filmes e aqui, inúmeros clichês retornam. Porém, o que há de mais interessante em "Sete Dias Sem Fim" é essa ideia distorcida de família. O lar, ironicamente, é exatamente o espaço onde todos os personagens se sentem desconfortáveis, desconexos. Não retornar foi o que motivou todas as escolhas de Judd Altman durante sua vida, estar em casa é como um retrocesso, mais um sinal de fracasso. E enquanto acompanhamos as angustias do protagonista, ao seu redor, nos deparamos com pessoas desiludidas com algo, mais do que a perda do pai, a desilusão de uma vida fora do trilho, tão distinta da infância que viveram ali, daquela vida simples, sem dificuldades e sem ter com o que se preocupar. É o desastroso encontro de personagens que não compreendem o passado, enquanto vivem o presente que não querem encarar. Há muito humor em tudo isso, mas há também, uma boa dose de melancolia.

O grande problema do longa, porém, é o roteiro, o que me surpreende e muito saber que foi escrito pelo próprio autor do livro, ainda que eu não saiba o quanto ele foi forçado a tomar certas escolhas. Tive a sensação de que todas as ótimas reflexões e toda a intensidade, fúria e confusão que era o livro, foram diluídas a serviço de um roteiro simples, mastigado, extremamente redondo. E no fim, não sobra muita coisa, não há muito o que pensar, o que sentir. É um filme de comédia, com cenas de drama. Ponto. E os dois gêneros não fluem tão bem na tela, nada é sutil, enquanto que o humor se resume à socos na cara, o drama parece que sempre tem a hora certa para começar e terminar e assim a obra cria uma fórmula desgastante e manipuladora, onde os personagens se encontram, acontece algo bizarro e logo em seguida surge uma frase de efeito. É bom se deparar com a emoção quando não esperamos por ela, mas como isso ocorre sempre da mesma forma, cansa, ainda mais quando não há diálogos fortes o suficiente para comover e nem sempre, atuações fortes para sustentá-la.

Jason Bateman foi uma ótima escolha, mesmo que ele traga alguns trejeitos de outros personagens que já interpretou, convence na pele de Judd. Por outro lado, há tantas coisas acontecendo a todo tempo, que alguns ótimos atores acabam sumindo no meio da bagunça como Corey Stoll, Connie Britton e Kathryn Hahn. Jane Fonda e Timothy Olyphant estão bem, mas não surpreendem, assim como Tina Fey, que diverte como sempre, mas infelizmente, decepciona nas cenas mais dramáticas. Adam Driver, mais uma vez, irritantemente, fazendo o mais do mesmo. Ao lado de Bateman, a melhor escolha para o elenco foi, com certeza, Rose Byrne, ainda que em um papel menor, surge extremamente carismática e encantadora, a atriz faz do filme algo melhor, sabe lidar com as nuances do roteiro e brilha em cena.

"Sete Dias Sem Fim" tem um ótimo ritmo e por isso, funciona muito bem como entretenimento. Não era o que eu esperava, mas é normal se decepcionar com uma adaptação, ainda mais quando vem de um livro tão bom. O que vi nas páginas escritas foi uma obra sobre fins, sobre rompimentos, e sobre como não temos ideia de quando eles ocorreram, a vida segue e quando percebemos tudo o que um dia tivemos, acabou, não existe mais. Quando foi a última vez que viram o pai? Quando foi que a última vez que estiveram realmente juntos? Quando foi o fim da felicidade e quando começou a preocupação, os problemas, a vida adulta? A vida é cheia de ciclos, começos e fins e seria muito triste se déssemos conta de tudo isso no momento em que acontece. Enfim, reflexões que somem nesta comédia de Shawn Levy, assim como as brilhantes definições da vida segundo Judd Altman. Nada no filme sugere isso, o que é uma pena. Confesso que gostei e nem foi tempo jogado fora, o longa funciona ao que se propõe, talvez quem não tenha lido o livro vai se envolver muito mais. Vale pelo elenco, pelo o humor e pelo final, que foge daquilo que já estamos acostumados.

NOTA: 7





País de origem: EUA
Duração: 103 minutos
Distribuidor: Warner Bros. 
Elenco: Jason Bateman, Tina Fey, Adam Driver, Rose Byrne, Jane Fonda, Corey Stoll, Timothy Olyphant, Abigail Spencer, Debra Monk, Connie Britton, Kathryn Hahn, Ben Schwartz
Diretor: Shawn levy
Roteiro: Jonathan Tropper



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