sábado, 17 de maio de 2014

Crítica: Fruitvale Station - A Última Parada (Fruitvale Station, 2013)


Sucesso no Festival de Sundance de 2013, no qual levou o Grande Prêmio do Júri e do Público e vencedor no Independent Spirit Award pela direção estreante de Ryan Coogler, "Fruitvale Station" causou certo burburinho pelas premiações, no entanto, acabou sendo ignorado pelo Oscar. Um drama realista e impactante, que trás uma história universal capaz de causar indignação, que deixa um vazio em seu final por se tratar de algo que infelizmente faz parte de nosso cotidiano, de nossa cultura.

por Fernando Labanca

Na virada do ano de 2008 para 2009, na estação de trem de Fruitvale Station, San Francisco, um momento é registrado por câmeras dos passageiros inconformados, Oscar Grant (Michael B.Jordan) e um grupo de amigos se veem cercados por policiais em uma disputa armada, sem nenhuma razão aparente, culminando num evento trágico. A ideia do filme é mostrar o humano por trás deste ser, vitima de uma injustiça, de um ato sem lógica. Voltamos 24 horas antes do ocorrido, o último dia deste homem, norte-americano, negro, que saiu da prisão e tenta restabelecer sua vida, assistimos seu envolvimento com sua esposa (Melonie Diaz), sua pequena filha e com sua mãe (Octavia Spencer).

"Fruitvale Station" é um filme que merece atenção. Sua intenção é nobre, relatar quase que de forma documental, o dia deste ser tão comum, que poderia ser qualquer um de nós, mostrar o humano por trás daquele fatídico evento, mostrar a história por trás da manchete. É difícil observar sua rotina, conhecer a relação que ele tem com as pessoas, sua luta diária, sabendo como tudo irá terminar. Ainda que parte do impacto da obra se perca pelo fato de já sabermos seu final, a jornada deste personagem se torna mais árdua, quando olhamos sua vida sabendo como tudo será injusto, como este tempo é irreparável, o sábio roteiro nos retira aquele olhar esperançoso, aquela fé de que algo bom pode acontecer, e seu término doloroso, como disse, deixa um vazio. Há uma tensão em cada instante neste longa, e a boa direção de Ryan Coogler mostra tudo com sua câmera trêmula, acentuando o realismo e a urgência de cada situação.


O diretor também acerta ao conseguir construir o universo deste personagem, nos coloca para dentro de sua vida, chega até ser delicioso seus momentos com a família, ver aquelas pessoas reunidas para o almoço, é de uma naturalidade e espontaneidade admirável. Parte deste mérito pertence ao bom elenco, Michael B.Jordan é uma revelação, seu primeiro grande momento no cinema. Melonie Diaz é uma atriz interessante e prova que merece papéis maiores no cinema. Já Octavia Spencer, tão elogiada por sua atuação, me surpreende vê-la tão exagerada, uma interpretação que parece ter sido tirada de alguma novela qualquer.

Ainda que a qualidade da obra seja notável, algumas outras coisas me incomodaram, a principal delas e vejo isso como o grande defeito de "Fruitvale Station" foi sua manipulação diante deste evento, parece que o roteiro quer a todo momento guiar o nosso olhar. Oscar Grant, ainda que desenvolvido por um viés bastante humano, a trama não deixa de sempre mostrar que ele é um homem bom, chega a ser patético a edição que coloca um flashback do personagem brincando com a filha logo após o incidente (e isso acontece em câmera lenta). Coogler, mesmo muito competente em sua função, não compreendeu que a morte de seu protagonista foi errada, injusta, não há justificativa para tal acontecimento, independente se Oscar tenha sido bom ou ruim, como consequência disso, vemos uma manipulação desnecessária e nada sutil, mostrar que ele amava as pessoas ao seu redor, mostrar que ele é do bem, mostrar que aqueles homens negros envolvidos no caso eram amigos que dançavam felizes ouvindo um rádio no trem na virada do ano. Diante disso, fica a impressão que a obra não deixa espaço para tanta reflexão, ela já faz este trabalho por nós, já nos dá as respostas sobre as perguntas, nos dá uma opinião quando deveria oferecer um argumento. 

"Fruitvale Station", mesmo com sua falhas, não deixa de ser um drama interessante. É um triste relato real, que causa revolta, é sobre racismo, sobre impunidade, sobre a desordem deste incoerente mundo globalizado. E mesmo com este olhar controlador do roteiro e diretor, é inevitável não sentir uma certa angústia, não ficar pensando sobre o ocorrido tempo depois de seu término. Um filme muito bem realizado, forte e impactante. Uma obra necessária. Não é tão bom quanto parecia, mas recomendo.

NOTA: 7,5



País de origem: EUA
Duração: 85 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Elenco: Michael B.Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer, Ahna O'Reilly, Kevin Durand, Chad Michael Murray
Diretor: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler

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