terça-feira, 19 de novembro de 2013

Crítica: O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond The Pines, 2013)

Dirigido por Derek Cianfrance, o mesmo que em 2011 trouxe para as telas o melancólico “Namorados Para Sempre”, e repetindo a parceria entre ele e o ator Ryan Gosling, este filme é ainda mais impactante que seu projeto anterior. E com seu talento em construir personagens tão humanos, “O Lugar Onde Tudo Termina” surpreende com sua trama brilhantemente bem escrita, intensa e reflexiva. Um dos melhores filmes do ano.

Por Fernando Labanca

A obra gira em torno de um acontecimento que definiu a vida de algumas pessoas, com começo, meio e fim bem pautados. Um evento que surge por pura ironia do destino e que as coloca diante uma das outras. “O Lugar Onde Tudo Termina” narra o momento na vida desses indivíduos em que eles ficam presos a este acontecimento, um clico que nasce e parece não ter fim, passando por gerações. Não há, portanto, um protagonista, são, na verdade, três histórias, três momentos, o começo, o decorrer e a consequência, e o roteiro muito bem escrito, as une de forma inesperada, quase como capítulos muito distintos, mas que não funcionam isoladamente. É como a vida mesmo, uma trajetória necessitando do impulso de outra para existir.

No primeiro momento, conhecemos Luke (Ryan Gosling), trabalha como motoqueiro em eventos esporádicos, até que reencontra com Romina (Eva Mendes), um caso do passado que logo revela ter tido um filho com ele mas preferiu se afastar. Para recuperar o tempo perdido como pai, Luke decide sustentar a família que acreditar ter, larga o emprego e passa a assaltar bancos. No segundo momento, o policial Avery Cross (Bradley Cooper) tenta se manter digno diante da corrupção de seus próprios colegas. Na terceira parte, Jason (Dane Dehaan), um jovem que decide ir atrás de seu pai no qual nunca teve notícias.


Três vidas que acabam se cruzando, três vidas distintas que fazem parte de uma mesma jornada, uma mesma história, e se entrelaçam de forma impactante e inesperada. Poderia muito bem ter estado entre aquelas histórias de “Crash- No Limite” de Paul Haggis, pois da mesma forma, narra este choque entre indivíduos que se não fosse por um evento irônico do destino, jamais se esbarrariam. No entanto, aqui há um suspense maior, há um constante clima denso, melancólico, onde os personagens parecem trilhar sempre pelo caminho mais tortuoso. O grandioso roteiro também reserva um espaço para momentos surpreendentes, a maneira como essas vidas se cruzam chega a ser genial, pois vão muito contra ao que esperamos do filme, ele parece seguir uma direção e logo após surge uma cena onde tudo se altera. E para intensificar todas estas brilhantes ideias, Derek Cianfrance, como diretor, faz de “O Lugar Onde Tudo Termina” uma viagem muito incrível, onde a maneira como as sequências são montadas, auxiliado pela ótima edição, fotografia e pela incrível e delicada trilha sonora, nos faz adentrar a obra, mergulhamos neste filme que é um furacão de sentimentos, tão complexo e tão belo, simplesmente memorável.

Os atores se entregam com força a seus personagens, Bradley Cooper surpreende mais uma vez como um competente ator dramático, tem uma atuação notável. Ryan Gosling não se desvincula por total de sua carinha de cão sem dono mesclado com sua cara de quem comeu e não gostou, mas ainda assim trás verdade a Luke, convence nos momentos mais fortes e emociona. Dane Dehaan é uma revelação, um ator jovem bastante promissor e faz bonito em cena, assim como Eva Mendes, que sinceramente, nunca a vi tão entregue a um filme, sua passagem é bela e realizada com muito cuidado e delicadeza pela atriz.

“The Place Beyond The Pines” é um título um tanto quanto poético e revela muito a essência da obra. O lugar além dos pinheiros, que literalmente é o lugar onde tudo termina, e é para lá que seus personagens estão caminhando, ao fim de uma jornada, de um ciclo. É, na verdade, sobre redenção, sobre esses indivíduos a procura deste lugar, o lugar que lhes darão, enfim, uma chance, uma chance de reparar os erros, de seguir em frente. E a tristeza da obra está justamente no fato de que nem todos os personagens conseguem chegar lá, que nem todo ciclo aberto se fecha, nem toda história se conclui. É irônico pensar que a primeira cena do filme é Luke em sua moto girando num globo da morte, e como essa sequência tão simples diz tudo sobre a jornada que os personagens viverão a partir dali. Belo, emocionante e intenso, um dos filmes mais marcantes do ano. Recomendo.  

NOTA: 9,5













País de origem: EUA
Duração: 140 minutos
Elenco: Bradley Cooper, Ryan Gosling, Dane Dehaan, Eva Mendes, Ray Liotta, Rose Byrne
Diretor: Derek Cianfrance
Roteiro: Ben Coccio, Darius Marder, Derek Cianfrance


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