terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Crítica: Biutiful (Biutiful, 2010)

Depois de seus elogiados mosaicos (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel), Alejandro González Iñárritu retorna no drama pesado e intenso "Biutiful", indicado ao Oscar 2011 de melhor Filme Estrangeiro e tembém favorito para vencer na premiação. O filme venceu o Goya de Melhor Ator (Javier Bardem), o mesmo ocorreu no último Festival de Cannes.

por Fernando Labanca

Nos filmes em que Iñárritu se consagrou, ele contava com as mãos de Guillermo Arriaga na criação de seus brilhantes roteiros. Pela primeira vez sem o roteirista, o direitor volta a exibir nas telas sua forma densa e suja de mostrar o mundo, mas agora com um novo roteiro, sem os mosaicos e as histórias entrelaçadas, o filme segue um caminho linear, com um protagonista e o mundo que acontece em seu redor, mas tudo por um só ponto de vista.

Conhecemos Uxbal (Javier Bardem), casado com uma mulher de múltiplas faces, uma mulher descontrolada, uma mãe desnaturada e devido ao seu temperamento difícil, os dois vivem praticamente separados, o que o obriga a cuidar de seus dois filmes, a razão de seu viver. Para sustentar sua família, mantêm um trabalho ilegal, gerencia africanos como camelôs e chineses numa fábrica têxtil, tudo sob uma péssima condição de trabalho e sem garantia nenhuma de que consiguirão viver no país, no caso, na Espanha. Se isso não fosse o bastante, Uxbal ainda tem que lidar com seu dom, ele é uma espécie de médium, que enxerga os mortos e devido a isso sempre teve uma ligação muito forte com a morte. E esta ligação aumenta quando ele descobre através de exames que tem apenas alguns meses de vida.


É quando ele passa a refletir sobre sua existência, e não vai atrás de rendenção, mas sim de tentar encontrar um equílibrio em sua vida, tentar deixar o melhor caminho para seus filhos e ter certeza que seu mundo viverá bem sem ele, mesmo ele sendo o manipulador de tudo o que acontece ao seu redor. Até que uma série de acontecimentos inesperados surgem, lhe trazendo angústia, medo, preocupação, e fazendo ele perceber que nada está a seu controle, e que a vida nem sempre é uma bela jornada.


Até certo ponto, "Biutiful" nos apresenta uma idéia bastante nova, a história daquele que vê seus dias numa contagem regressiva, e até hoje o que estamos acostumados a ver é aquela velha história de redenção, onde os dias passam a ser lindos e tudo passa a ser mais belo pelos olhos daquele que está diante da morte. Aqui, Iñárritu nos apresenta um outro lado, estamos diante de um mundo sujo, cruel, difícil, a beleza está nos olhos de quem vê, mas é difícil enxergar beleza quando toda sua volta está desabendo e tudo indo para o caos, no case de Uxbal, a morte é seu próximo passo e ele nada mais pode fazer para trazer beleza a este mundo.

Toda esta visão caótica da vida é mostrada através de cenas que há todo momento nos remete a algo ruim, desconforto, mal estar. Lugares sujos, cenários mal organizados em sequências onde o que menos se vê é beleza. Devido a isto também seja um filme difícil de acompanhar, se prender, pois tudo nos transmite algo pessimista, cenas em que contamos os segundos para terminar. Claro que tudo faz parte da intenção do diretor de passar sua idéia, mas mesmo sabendo disso, "Biutiful" está longe de ser algo adorável, para se ver uma vez na vida e nunca mais, um filme feito para se admirar no momento e não levar para vida.

O grande problema do longa, porém, é o excesso de informação e pouco foco. Pirataria, exploração de pessoas, a vida difícil dos estrangeiros que vivem ilegalmente no país, homossexualismo, prostituição e até mesmo contato com os mortos. E nada é bem aproveitado pelo roteiro, que segue milhões de caminhos, nos apresenta vários assuntos e tudo não passa de uma pano de fundo, onde não há nenhum foco, nenhum propósito para estarem ali. Parece que Alejandro se preocupou tanto em fazer um filme completo que esqueceu de formar uma meta e concluir uma idéia, onde tudo está perdido na trama.

O que salva "Biutiful" definitivamente é a brilhante atuação de Javier Bardem, excelente em seu papel e um fortíssimo candidato ao Oscar, toda sua seriedade e empenho, fazem do filme algo muito melhor do que realmente é. Todo o elenco, por sua vez, não desapontam e todos acabam surpreendendo, devido ao fato do roteiro, apesar de falta de foco, ter diálogos e cenas bastante intensas e que necessitam de atuações seguras e nisso o elenco faz sua parte.

Tem seus momentos, algumas cenas belas, como o relacionamento de Uxbal com seus filhos, tudo muito convincente, mas os bons momentos se limitam a estes, onde nada é mais interessante e que nos faça querer vê-lo até o final. Destaque também para a trilha sonora muito bem utilizada. Não ganhou o Globo de Ouro e tem grandes chances de não levar o Oscar, o que para mim não será muita surpresa. Se comparado com os últimos trabalhos de Alejandro Gonzáles, "Biutiful", com certeza, é sua obra mais fraca.

NOTA: 4


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