segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Crítica: A Lenda dos Guardiões (Legend of The Guardians: The Owls of Ga'Hoole, 2010)


Baseado nos livros infantis de Kathryn Lasky, "A Lenda dos Guardiões" trás novamente a direção, Zack Snyder, o visionário que trouxe aos cinemas filmes como "300" e "Watchmen", e mais uma vez, o diretor inova no quesito visual, colocando nas telas, algumas das cenas mais belas do ano.


por Fernando Labanca

Na trama, conhecemos Soren e sua família "coruja", literalmente. Ele, um sonhador, mesmo acordado vive a vida cercado por suas ilusões, adora contar uma lenda antiga, onde um grupo de guardiões salvaram e libertaram as corujas anos atrás. Diferente dele, há seu irmão mais velho, Kludd, mais concentrado na realidade, e que se sente menosprezado pelos pais por não saber voar tão bem quanto o Soren. Numa tentativa de ensinar Kludd a voar, os dois acabam discutindo, caem do ninho e perdem o rumo de casa.

Porém, desse descuido, há consequências trágicas. Os dois são capturadas por um grupo de corujas chamadas de "Puros", eles capturam corujas iniciantes, as mais bravas, lhe são ensinadas o voo e se tornam espécies de "capangas", porém, as restantes, se tornam "escravas" e passam a coletar um elemento mágico que fará com que os "Puros" dominem o mundo. Os irmãos são separados, enquanto Kludd tem a chance de enfim ser grande e ter seus talentos recompensados, Soren, vira coletor. Desesperado, a pequena coruja consegue escapar, e parte em busca da Grande Árvore, o lar dos lendários Guardiões, logo que para ele, são os únicos que poderão salvá-los. E nesta jornada, Soren conhece alguns amigos e junto com eles, começa a fazer parte daquilo que nunca imaginou fazer, passa a fazer parte da lenda, seguindo caminhos de um herói, pronto para se tornar um mito.

Do início ao fim, "A Lenda dos Guardiões" segue uma linha de total conforto, sem sair desse caminho, o filme cai na mesmice, sem nenhuma ousadia no roteiro, o longa recheado de clichês não inova, e sabemos desde o início no que a história vai dar, completamente previsível e sem nenhuma, NENHUMA surpresa.


O filme é infantil, desde a construção da trama até o desenvolvimento dos personagens, nada de muito complexo e maduro. Entretanto, o tom mais pesado que Zack Snyder optou pode não agradar as crianças, logo que não há personagens carismáticos, muito menos marcantes, humor pouco aproveitado, onde a seriedade ganha maior espaço, porém, de uma trama fraca acaba que não chamando a atenção dos adultos, e nisso, o longa perde público e digamos também, a coerência. Hoje em dia, a animação ganhou proporções maiores, e os criadores sempre tem a preocupação de atingir o maior público possível, utilizando o humor e o carisma para conquistar as crianças e trabalhando forte nos roteiros para agradar não só os adolescentes e adultos como também os críticos, e muitos conseguem, em 2010 temos bons exemplos como "Toy Story 3" e "Como Treinar o Seu Dragão".



Por outro lado, "A Lenda dos Guardiões", assim como citei acima, trás as telas algumas das cenas mais belas do ano. Zack Snyder é um excelente diretor e sabe trabalhar com o visual melhor do que ninguém, isso é inegável. 300 e Watchmen foram sim uma revolução visual, e seu filme em cartaz não chega a ser diferente. Snyder constrói imagens surreais, fora do imaginável, a utilização da câmera lenta, acaba exaltando e deixando algumas sequências deslumbrantes e podemos assim perceber detalhes riquíssimos de animação, além da fazer nosso coração parar de bater. O 3D aqui é muito bem utilizado, acredito que tenha sido o melhor desde "Avatar". Portando, se ainda quiser ver este filme, que veja no cinema, o resultado é impressionante.



Resumindo, pela história, não vale a pena, nada de inovador, um filme que esquecemos segundos após sairmos da sala, entretanto, o que Zack Snyder nos proporciona é algo grandioso, fantástico, pelo visual vale a pena, pela equipe talentosa do estúdio que havia criado "Happy Feet" e que mais uma vez revoluciona a animação, atingindo o mais alto nível no gênero. Logo, juntando os prós e contras, vale a pena arriscar, até porque, por mais que a trama não traga nada de novo, não significa que não tem conteúdo, um filme acima de tudo, bem intencionado.


NOTA: 7

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crítica: Comer, Rezar, Amar (Eat Pray Love, 2010)

Criador de uma das séries mais comentadas da atualidade, "Glee", Ryan Murphy, elogiado por sua criação, foi para o cinema, afim de transpor para as telas o best seller "Comer, Rezar, Amar" de Elizabeth Gilbert. Com Julia Roberts no papel principal, o filme nos guia a uma incrível viagem de descobertas para a personagem, mas quem sai ganhando, definitivamente, é o público!

por Fernando Labanca

Elizabeth (Roberts) é uma escritora, com um trabalho promissor, dinheiro, um marido que a ama num relacionamento estável, enfim, tinha em suas mãos tudo o que muitas mulheres anceiam. Até que chega um momento em sua vida que começa a questionar tudo ao seu redor, se é isso que a faz feliz, que precisa para continuar vivendo. Percebendo que não ama mais seu marido, Steven (Billy Crudup), tem um surto, pede o divórcio, e numa tentativa de reconstruir sua vida, começa a se relacionar com um ator, um homem bem mais novo que ela, o sensível e intelectual, David (James Franco). Porém, esta união não é o suficiente para satisfazê-la como pessoa e percebe que precisa mais, não de um novo homem, não de outro emprego, mas precisa se encontrar no mundo, descobrir quem realmente é e do que realmente precisa para viver.

Ela decide abandonar tudo e todos, faz as malas, e faz um roteiro de viagem, três lugares, Itália, Índia e por último, o lugar onde a faz questionar tudo isso, Bali, na Indonésia, onde, numa viagem a trabalho havia conhecido um guru cheio de sabedoria que a fez acreditar que um dia abandonaria tudo e retornaria para o local. Na Itália, conhece a gastronomia mais requintada do mundo, belos pratos e muito sabor, faz alguns amigos, começa a aprender italiano, descobre as curiosidades sobre a cultura local. Na Índia, decide entrar em maior contato com a religião, começa a frequentar alguns templos, é onde conhece Richard (Richard Jenkins), um homem, a princípio irritante, mas depois, ela descobre seu passado, e numa intensa conversa com ele, Elizabeth começa a refletir sobre sua vida, principalmente sobre o homem que a amava de verdade e ela o abandonou, e por isso se sentia tão presa, por não ter se perdoado pelo ato. Ainda no país, conhece uma jovem indiana que pela tradição, é obrigada a se casar com um desconhecido. Em Bali, Elizabeth pretende encontrar o equilíbrio, encontrar, enfim, a paz, e lá conhece o brasileiro Felipe (Javier Bardem), e acaba encontrando o que não estava em seus planos, o amor.











Quem nunca pensou em desistir de tudo? E desistir, não significa cortar os pulsos, mas sim, abandonar a rotina, conhecer novos lugares, respirar novos ares. Quem nunca acordou diferente do "ontem" e começa a querer novas coisas e percebe que tudo o que tem, na verdade, não é o que precisa, a instabilidade e a complexidade do ser humano. "Comer, Rezar, Amar" nos coloca na vida de Elizabeth, uma mulher, assim como muitas pessoas, cansa da vida que leva, e num ato de desespero, talvez, mas também de muita coragem, embarca numa viagem de auto-descobertas. O público é mais feminino, mas não significa que os homens não o aprovem, muitos poderão se identificar com as crises de Elizabeth e se envolver facilmente com essa bela trajetória, de comida, de religião e amor, três dos elementos que muitos procuram para viver.

Muito criticado, "Comer, Rezar, Amar", ao meu ver, é delicioso. Não só pelos pratos italianos, mas principalmente pelo conteúdo. A jornada exposta é incrível, e Ryan Murphy, como diretor, acerta em cheio, ele consegue guiar essa viagem brilhantemente, seja pela trilha sonora, pelas ótimas locações e fotografia. O filme é longo, 2 horas e meia, tempo suficiente para colocar as tramas de forma tranquila, sem correr, dando espaço devido para cada situação e personagem, tudo na dosagem certa.

Julia Roberts está linda, convence em tudo, tanto nos momentos de crise de Elizabeth, quanto nos momentos de maior descontração. Os coadjuvantes acertam também, principalmente Richard Jenkins e James Franco, em cenas memoráveis, ambos contróem personagens belos e com muita comoção, e são por eles feitos, alguns dos melhores diálogos do filme. Billy Crudup, carismático e correto. Viola Davis aparece como melhor amiga de Elizabeth, e até hoje não consigo enxergar na atriz tal posição, como se ela fosse boa demais para isso, para uma simples coadjuvante-confidente, papel que exerceu também em "Noites de Tormenta". Javier Bardem, ator espanhol e experiente, fica com o pior desempenho no filme, totalmente deslocado na trama, ele não convence nenhum um pouco como brasileiro, desde seu sotaque até suas atitudes.

Sim, o longa tem seus defeitos, Javier Bardem é um deles, por incrível que pareça, também algumas músicas se repetem e isso chega a incomodar. Além, disso, há alguns detalhes da cultura brasileira totalmente erradas, como o beijo na boa dos filhos (What???), e também acredito que acabou se tornando um defeito, o fato da passagem pela Itália, a primeira, ter sido a melhor de todas, tanto pelos personagens, pelas situações, e principalmente pelo ótimo rítimo dado ao capítulo, que infelizmente se perde no decorrer do filme. Mas isso, não chega a estragar, aliás, seria preciso muito mais para fazer deste filme algo ruim, "Comer, Rezar, Amar" está acima da média, e vai além, um filme delicioso, divertido e emocionante, tudo é feito para fazer o público refletir, nada vem de graça no longa, cada diálogo, cada cena, tem um propósito, e acredito que o filme tenha consigido alcançar seu objetivo. Um longa cheio de vida, cheio de lições com frases de efeitos, cenas belamente construídas, tudo em perfeita harmonia.

NOTA: 9

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cinema ao redor do mundo

Algumas pessoas não sabem, mas cinema também existe fora dos Estados Unidos e Brasil, um cinema de qualidade que existe ao redor do mundo e que nem todos tem acesso (até porque aqui no Brasil, eles mal chegam no cinema). Resolvi, então, comentar um pouco desses filmes, que vi recentemente. Filmes de países como China, Espanha, França, México e Canadá.

por Fernando Labanca


CHINA:

2046: Os Segredos do Amor (2046, 2004)

Uma produção que conta com outros países, como Alemanha e França, o longa dirigido pelo aclamado Wong Kar-Wai, conta com um elenco de peso, como Tony Leung e as belíssimas Zhang Ziyi e Gong Li.

A história é viajada, literalmente. Um escritor (Leung) viaja a Hong Kong para escrever um livro, lá ele se hospeda num hotel barato, até que começa a se envolver amorosamente com várias mulheres, cada uma com seus defeitos e qualidades, todas de um mesmo quarto, o 2046. Enquanto isso, ele escreve uma ficção ciêntífica sobre passageiros de um trem chamado 2046, e todos vão para um mesmo destino, um lugar onde poderão reencontrar todas as memórias perdidas e que gostariam por algum motivo, resgatá-las.

Lendo a história já parece algo confuso, vendo o filme, você tem a certeza de que se trata de algo, definitivamente interessante e inovador, porém, confuso. São tantas mulheres, histórias parelelas que parece que o filme não tem rumo algum e quando ele termina, essa dúvida é esclarecida, viajou demais para chegar a lugar algum.

Já houveram críticos que o citaram como um dos filmes mais românticos de todos os tempos, entretanto, ao meu ver, "2046" nem chega a ser um romance, logo que o personagem principal de envolve com as mulheres de uma forma tão fria e sem nenhum tipo de sentimento, e quando as magoa nem ao menos sente arrependimento. Enfim, o que sobra do filme é apenas o visual, aliás estamos falando de Wong Kar-Wai, o filme surpreende pelas beas cenas, os cenários, os figurinos, mas isso não é tudo.

NOTA: 4



ESPANHA:

Azul Escuro Quase Preto (Azul Oscuro Casi Negro, 2006)

Dirigido e escrito por Daniel Sánchez Arévalo, o filme conta a história de Jorge (Quim Gutiérrez), um rapaz que trabalha como porteiro num edifício, enquanto termina seus estudos. Acredita ter sido responsável pelo derrame de seu pai e por isso, cuida dele, em estado quase vegetativo como se fosse seu filho. Para piorar, seu irmão mais velho, Antonio, homem da pior espécie, preso, acaba se apaixonando por uma jovem prisioneira, a bela Paula (Marta Etura), que por sua vez, não aguenta mais as condições precárias da cadeia feminina, além de apanhar constantemente, ela deseja ficar grávida para ter alguns benefícios, e Antonio, para vê-la feliz, decide engravidá-la (por solidariedade, é claro), até que descobre que é estéril.

Antonio está prestes a ser libertado, porém, para realizar o sonho de Paula, ele pede este último pedido a seu irmão. Jorge, inocentemente embarca nessa idéia, porém acaba se envolvendo demais com a jovem, e ela passa a ser a melhor coisa em sua realidade. Eis que uma antiga namorada retorna, e para piorar seu melhor amigo passa por novas descobertas, como por exemplo, ser homossexual.

Loucura total. "Azul Escuro Quase Preto" viaja legal nas idéias e isso é que faz deste filme algo grandioso. O Título estranho, a princípio, remete a cor do terno que Jorge sempre vê numa vitrine, a roupa de alguém muito importante, coisa que ele acredita que nunca irá ser. E como ele, todos os personagens se veem em um obstáculo, presos em suas próprias realidade, e que nas horas mostradas terão que enfrentar alguns medos e inseguranças.

O problema é o humor que muitas vezes entra em hora indevida, numa cena que se levada a sério seria incrível, perde o encanto por ter uma piadinha, além de algumas atitudes incompreensíveis como a de uma mulher que age naturalmente mesmo descobrindo que tanto seu marido e seu filho são gays...fala sério! Mas no geral, o longa se sai bem, personagens interessantes e muito bem interpretados, histórias envolventes e muito bem guiadas pelo diretor, recomendo!

NOTA: 7



FRANÇA:

Caché (Caché, 2005)

Dirigido por Michael Haneke, de "A professora de Piano" e "Violência Gratuita", o filme considerado por muitos um dos melhores da década, conta a história de uma família amedrontada por um "espião".

Georges (Daniel Auteuil) e Anne (Juliette Binoche) começam a receber fitas de vídeo que mostram uma gravação da fachada da própria casa, como se alguém do lado de fora, ficasse o dia inteiro os observando o mostrando o que via, além disso, lhes enviava desenhos, aparentemente feitas por uma criança, mostrando um garoto vomitando sangue e uma galinha estrangulada.

Até que Georges recebe uma gravação da casa onde passou a infância, é quando começa a duvidar se aquele que está destruindo a paz de sua família nada mais é que seu irmão adotivo, que foi retirado de sua casa devido a mentiras contadas por Georges. E ele começa a temer e refletir se isso é uma vingança, de alguém tentando destruir aquilo que nunca teve devido a seu próprio irmão, uma família.

Interessante, uma história ótima e uma direção impecável. Porém, "Caché" começa muito bem, nos prende facilmente na situação mostrada e acabamos superestimando o longa logo de início, nos faz acreditar que vai ter um grande final, daqueles bem surpreendentes, mas não passa de um engano. Logo na metade do filme, os mistérios são revelados, a partir de então, é só enrolação para o final, sem mais surpresas, e quando acaba sentimos que faltou algo, uma história como essa merecia um final muito mais decente.

NOTA: 6



Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs, 2008)

O vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, "Entre os Muros da Escola" mostra um lado da França pouco conhecida pelo público brasileiro, a periferia, mas precisamente numa escola, onde ocorre todo o filme.

Um professor, interpretado por François Bégaudeuau, ator não-profissional, que havia escrito um livro sobre suas experiências como professor. Aqui ele também é François, um professor iniciando mais um ano letivo, e durante o filme, acompanhamos um ano na vida dele dentro de uma sala com seus alunos, e conhecemos de perto os conflitos que ele enfrenta a cada dia, tentando passar conhecimento para jovens que não sabem nem o porquê de estarem ali. Ainda existem os conflitos entre os próprios alunos e dos alunos para com o professor, logo que muitos levam esta relação para o lado pessoal.

Claustrofóbico. Um filme inteiro dentro de uma sala de aula, dentre esses muros que o título anuncia, que aliás, muros que existem até de forma, digamos, invisível, nesta relação professor/aluno, e quando esses "muros" caem, é quando surgem os choques de civilização.

"Entre os Muros da Escola" é bastante realista, até porque é feito por não-atores, François um professor de verdade e os jovens mostrados, alunos na vida real, somentes eles entenderiam o que se passa de verdade, naquele universo tão único e isolado. Parece que entramos na sala de aula e durante o filme fazemos parte daquela turma enfrentando os mesmos dilemas, surreal.

Definitivamente, o melhor retrato já feito sobre a escola, sobre tudo o que faz parte desta instituição. Palmas para o diretor Laurent Cantet e para todos os envolvidos. Brilhante, merecedor dos elogios que recebeu.

NOTA: 9




Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)

O longa, dirigido por Olivier Dahan, conta a trajetória de uma das cantoras francesas mais respeitadas, Edith Piaf, interpretada por Marion Cotillard, vencedora do Oscar 2008 por Melhor Atriz.

Piaf, uma mulher independente e muitas vezes arrogante, com uma voz inconfundível e admirada por muitos. Mas por trás desta fama existe uma história, fatos do passado que definiram quem ela se tornou. De uma infância sofrida, acompanhava a mãe cantar nas ruas, eis que seu pai ausente aparece e decide mudar o rumo da garota, sem condições de ficar com ela, lhe entrega para a avó da menina, sua mãe. Ela, uma dona de um bordel, Edith cresce no meio de um ambiente sujo, mas acaba se envolvendo com as prostitutas que se tornam suas amigas, mas logo é retirada por seu pai, mais uma vez que decide colocá-la nas ruas novamente para poder lucrar, é quando conhece o talento da menina em cantar e descobre um novo modo de gerar dinheiro.

Até que ela é descoberta por um dono de uma boate famosa, e Edith passa a fazer pequenos shows, sem muita experiências no palco e com uma voz marcante, ganha destaque, e sua vida começa a seguir outros rumos, mas o sofrimento, as perdas, as angústias, a acompanharam até sua morte, além delas, lhe sobrou o amor, amor pelas pessoas, pela sua profissão, era intensa ao extremo, quando amava, amava profundamente.

Uma trajetória de vida única, daquelas que deveria sim virar filme, não há roteirista que conseguisse criar uma vida como essa. "Piaf" consegue em pouco mais de 2 horas contar detalhadamente essa jornada, alternando entre seu presente e seu passado, aos poucos vamos entendo os porquês, e esse é um dos pontos positivos do filme, que opta por não contar sua vida numa ordem cronológica correta, o transformando em algo hipnotizador e original.

Uma trilha sonora empolgante, figurinos belíssimos, cenários caprichosos, enfim, acertarem em tudo. Destaque para a maquiagem que faz com que Marion Cottilard convença tanto como uma adolescente de 16 anos a uma idosa.

Marion Cotillard. É difícil e arriscado dizer isso, mas digo com toda a certeza, a melhor performance feminina dos últimos tempos. Sua encarnação em Edith Piaf é de arrepiar, inacreditável, sua voz, seu jeito de andar, seu olhar, tudo muda, Cottilard renasce na pele da cantora, alcança a perfeição e vai além. Maravilhosa, magnífica, de ficar sem palavras ao vê-la em cena.

NOTA: 8,5



MÉXICO:

E Sua Mãe Também (Y Tu Mama También, 2001)

Dirigido por Alfonso Cuarón, de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" e do ótimo "Filhos da Esperança", ainda no cinema mexicano, o diretor e também roteirista realizou "E Sua Mãe Também" que conta com Gael García Bernal, Diego Luna e Maribel Verdú no elenco.

No filme, após suas namoradas viajarem a estudos, dois amigos, Tenoch (Luna) e Julio (Bernal), se juntam para curtir a vida, até que conhecem, em uma festa de família, a namorada de um primo de Tenoch, 11 anos mais velha que eles, a bela e independente Luisa (Verdú), numa brincadeira, eles comentam com ela que vão fazer um tuor em busca de uma ilha paradisíaca chamada "Boca do Céu". O que eles não imaginavam é que não muito tempo depois do encontro, ela é traída por seu namorado e decide fazer uma viagem, esquecer dos problemas, fugir de sua realidade e entra em contato com os adolescentes, pois sabiam que eles poderiam proporcionar isso a ela.

Julio e Tenoch, então, controlado por seus hormônios, forjam essa viagem para tê-la como acompanhante. Os três embarcam num caminho desconhecido, onde eles fazem as próprias leis, até que Luisa resolve tomar o controle do jogo e juntos entram num conflituoso e sensual relacionamento, de sexo, bebidas e novas descobertas.

Até a metade do filme, ele se resume a cena de sexos sem compromissos, chegando a incomodar, logo que se torna facilmente algo vazio, sem propósito, nada além de querer mostrar os corpos dos atores principais. Da metade para o final, ele começa a seguir um novo rumo, surgem os conflitos e se torna, algo, digamos, decente.

"E Sua Mãe Também" pode incomodar muitas pessoas, principalmente pelo papel da mulher exposto, onde ela nada mais é que um objeto, pronta para servir os homens da meneira como eles desejam, chegando a ser patético, preconceituoso e porque não, machista. Apesar de ter um final até que interessante, não chega a salvar o resto que foi um grande desperdício.

NOTA: 4



CANADÁ:

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y, 2005)

Resolvi deixar o melhor para o final. Primeiro e até então único filme canadense que vi e me surpreendi. Dirigido por Jean-Marc Vallée, o longa conta sobre uma família no lado "francês" do Canadá, o Quebec.

Uma espécie de Paixão de Cristo comtemporânea, o filme nos mostra a trejetória de Zachary (Marc-André Grordin), desde seu nascimento até alcançar sua maturidade num aventura mística a Jerusalém. Zachary, o quarto filho, os outros Christian, Raymond, Antoine e o último Yvan: C.R.A.ZY. O nome do disco predileto do pai.

Nasceu no Natal, devido a isso, ganhava apenas um presente e uma festa, o de aniversário e o de Natal, seu aniversário praticamente nem existia, assim como sua pesssoa. Se sentia menos importante que os demais, eis que de uma mecha misteriosa no cabelo, a mãe coloca na cabeça que o filho é milagroso e pode curar as pessoas, devido a isso vai estudar num colégio para cristãos.

Na adolescência, vira ateu. Conhece o rock n' roll e as drogas, se recusa a ser como todos ao seu redor, mas ainda ama seus pais, e o que mais o aflinge é o distanciamento com o pai, que tanto ama. Até que numa festa, conhece o namorado de sua prima, é quando descobre ser homossexual e começa a ter um desejo quase obsessivo pelo rapaz. Tem conflitos fortes com seu irmão Raymond por suas opções de vida, e devido a seu comportamento forte, acaba destruindo a harmonia da família que aos poucos vai se desistruturando. Entretanto, por medo de magoar seus pais, ele se recusa a ser quem ele realmente quer ser, admitir o que ele realmente deseja ter.

Uma história de amor, não entre um homem e uma mulher, mas entre uma família, que enfrenta os conflitos, as mágoas e tentam se manterem unidos. A história de um jovem que traça uma jornada em busca de ser aceito pelo pai, e poder sentir o retorno desse amor que sente por ele, um jovem que por amor, viveu uma mentira.

Incrível, inteligente, encantador, original ao extremo. Um drama muito bem desenvolvido, 2 horas muito bem preenchidas, com história interessantes, personagens bem escritos e conflitos empolgantes o suficiente para prender o público do início ao fim. Além de uma parte técnica muito bem produzida, como a trilha sonora bem utilizada, como a memorável cena de uma missa ao som de Rolling Stones e o clássico "Sympathy for the Devil", além de várias músicas de boa qulidade que traduzem muito bem a época, os anos 80.

"C..R.A.Z.Y" acima de tudo é poético e merece ser visto e admirado.

NOTA: 10

sábado, 2 de outubro de 2010

Crítica: Amor à Distância (Going the Distance, 2010)

Pelo menos uma vez ao ano, surgem comédias românticas, que valem a pena serem assistidas e admiradas, ano passado com o cult "500 Dias com Ela" e uma das surpresas "Ele Não Está Tão Afim de Você", este ano, fica para "Amor à Distância" como aquela que merece destaque, num gênero onde ninguém espera muita coisa, logo, quando apresentam novidades, surpreendem fácil.

por Fernando Labanca

No filme, Garret (Justin Long), vive em Nova York e trabalha numa gravadora, o que não lhe trás muita satisfação, logo que percebeu que o que lucra nem sempre é de qualidade. Essa satisfação ele encontra nas mulheres, e por isso, vive se relacionando com várias, sem se entregar verdadeiramente, só por passatempo e diversão. Até que conhece Erin (Drew Barrymore) num bar, os dois logo fazem amizade e percebem muita afinidade e na mesma noite...transam. Os dois começam a se encontrar é quando ele descobre que ela é de São Francisco, faz pós em jornalismo e está passando apenas seis meses na cidade para um estágio e logo voltaria.

Só lhes restavam seis semanas, os dois aproveitam ao máximo, e o que era apenas um "caso de verão" sem futuro, sem compromissos, acaba virando paixão. Ela vai embora, e ambos decidem continuar a relação mesmo distantes, enfrentando esta dificuldade que é muito comum na vida das pessoas. A partir de então, Erin e Garret mergulham no mais improvável relacionamento, mensagens de texto, ligações, e-mails, onde até mesmo o sexo é via telefone, mas as coisas ficam mais tensas quando eles começam a refletir sobre o futuro e se os dilemas e incertezas que vivem terão mesmo validade.


Assim como "Ele Não Está Tão Afim de Você", o filme aborda temas bastante atuais e que se encaixam perfeitamente na vida de muitas pessoas, portante, facilmente ganha a identificação do público. E a história de amor à distância é muito bem desenvolvida pelo roteiro, onde consegue tirar o máximo proveito das situações, na maioria das vezes com bastante humor, mas mostrando as dificuldades e conflitos que este tipo de relacionamento pode gerar, claro, que muitas vezes é tudo muito exagerado, mas é comédia, o exagero das situações é essencial.

"Amor à Distância" tem tudo para agradar o público e ser, talvez, a comédia romântica do ano. Atores competentes e extremamente carismáticos, humor afiado, boas sacadas, referências ao anos 80 como "Top Gun" e "Dirty Dancing", ou como os mais contemporâneos como "Um Sonho de Liberdade" e uma imitação impagável de Morgan Freeman, ou uma piadinha a Michael Bay e seu filme-desastre total "Transformers", belas e variadas locações e uma trilha sonora arrebatadora, que conta com The Cure e seu clássico "Just Like Heaven" e The Pretenders com "Don't Get me Wrong", além da banda indie mais atual "The Boxer Rebellion".

Drew Barrymore, da menina de ET a uma das atrizes mais lucrativas de Hollywood, carisma é seu forte, talvez se fortaleceu na indústria devido a ele. Vê-la em cena é algo surreal, sua atuação é ótima, nada tão surpreendente, mas há um brilho em sua atuação que nem todas as atrizes possuem, sabe ser divertida e exagerada com muita naturalidade. Justin Long também diverte em cena e junto com ela, fazem um dos casais mais agradáveis do ano, que torcemos de verdade. Os coadjuvantes agradam, os amigos de Garret, interpretados pelos comediantes Charlie Day e Jason Sudeikis, praticamente improvisando em cena, e ainda a bela e divertidíssima Christina Applegate, da série "Samantha Who?", como irmã de Erin, excelente como coadjuvante.

O erro, acredito, que seja pelas longas cenas desnecessárias, como as conversas de Garret e seus amigos, que nada somam na história, só pelo humor mesmo, e que muitas vezes, nem o humor funciona. Tirando isso, o resto é incrível. "Amor à Distância" é incrível por inovar em alguns elementos, como apimentar mais as comédias românticas, quebrando um pouco as regras, palavrões, cenas de sexo, isso pode pegar alguns de surpresa, e ser mal visto por muitos, porém, querendo ou não, é uma fuga daquilo que sempre é muito correto, além de criar o que podemos chamar de "anti-heróis" das comédias românticas, Erin e Garret são duas pessoas fracassadas profissionalmente e que se entregam um ao outro de forma mais radical e isto na tela, acaba sendo mais original, longe do convencional, enfim só assistindo pra entender o que quero dizer. Resumindo, assista, mesmo aqueles que tem preconceito com este gênero, pode se surpreender com esta pérola.

NOTA: 9

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Crítica: A Estrada (The Road, 2009)

Baseado na obra vencedora do prêmio Pulitzer de Literatura em 2006, do norte-americano Cormac McCarthy (o mesmo de "Onde os Fracos Não Tem Vez"), "A Estrada" é um filme apocalíptico, mas diferente de filmes como 2012, Zumbilândia e Eu Sou a Lenda, trás uma carga dramática mais profunda, não se entregando a grandes efeitos especiais, mas sim, na complexidade de seus personagens.

por Fernando Labanca

O filme já inicia num mundo totalmente devastado, não sabemos o porquê e nem como todo o desastre aconteceu, só sabemos que há poucos sobreviventes, que por sua vez, se alimentam dos poucos que restaram, isso mesmo, de carne humana!! Neste caos, um homem (Viggo Mortenesen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) caminham em direção ao mar, e nesta trajetória, tentam encontrar comida, comida de verdade, já que se recusam a ser como os outros e tentam ao máximo manterem a pouca dignidade que lhe restam, e mais do que isso, da necessidade do pai em mostrar ao filho algo que desapareceu junto com a humanização da sociedade, a bondade.

E na estrada, se deparam com pessoas que perderam completamente a integridade, matam sem piedade, atrás de comida. Ainda encontram seres que caminham sózinhos, como um senhor (Robert Duvall), onde o menino faz de tudo para o pai ajudá-lo, mas ele nega, pois sabe que não há mais como ajudar o próximo. E no meio deste pesadelo sem fim, o homem ainda se prende as poucas lembranças que lhe restam de sua mulher (Charlize Theron) que simplesmente desistiu de viver. E este pai de priva de sofrer, para mostrar ao filho, coragem, mostrar que ele está protegido, e provar que ainda pode haver esperança, mesmo sabendo que só há uma saída para este caos, a morte.

"A Estrada", dirigido por John Hillcoat, é um filme tenso, que nos prende e nos comove desde a primeira cena. E este clima pesado, tenso, é mostrado através de um fundo cinzento, sem cor, sem alma, e só pela fotografia e pelos "cenários" sentimos o vazio, a insegurança, a falta de fé e esperança daquele mundo, se esta era a intensão do diretor, funcionou muito bem.

Assim como explicou o diretor certa vez: "É a dimensão humana que me interessa no espetáculo de destruição", o filme diferente de outros sobre o mesmo tema, se prende mais na complexidade de seus personagens do que na destruição em si, que na verdade, nada mais é que apenas um pano de fundo para se explorar a humanização perdida de uma sociedade perante uma tragédia. E os personagens escritos cumprem este papel, e nos emocionamos com suas jornadas, é claro, que não teria este impacto sem as grandes atuações. O pequeno Kodi Smit-McPhee compreende sua função e vai bem durante toda a projeção, ainda temos a participação marcante e comovente da bela Charlize Theron e um irreconhecível Robert Duvall, brilhante. Destaque para Viggo Mortensen, no papel principal, simplesmente irretocável, impecável, numa atuação memorável, de deixar qualquer surpreso e emocionado.

A mais complexa e impactante versão de um mundo apocalíptico dos últimos tempos, uma mistura de suspense com drama de deixar filmes como "2012" completamente humilhados. Percebi algumas semelhanças com "Ensaio Sobre a Cegueira" de Fernando Meirelles, onde haviam personagens sem nome e que perderam a dignidade e a humanização perante o caos, ambas as obras funcionam bem na tela e surpreendem pelas idéias bastante reflexivas. Enfim, assista, não espere um filme para entretenimento, logo que se trata de um filme bastante denso, numa história pessimista, mas que vale a pena conferir.

NOTA: 9,5

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