quarta-feira, 7 de julho de 2010

Crítica: Onde Vivem os Monstros (Where The Wild Things Are, 2009)

Em 1963, Maurice Sendak, revolucionou a literatura infantil, com uma história simples, criando o que hoje é muito comum, os livros ilustrados. O livro, Onde Vivem os Monstros, era basicamente ilustrações do próprio autor, com apenas nove frases, criou o dia em que Max, um garoto de 9 anos fica sem jantar por mau comportamento e de castigo em seu quarto, ele elabora todo um mundo fantasioso, cheio de monstros.

Depois de muitos anos, o visionário diretor Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich), resolveu adaptar para o cinema o que para muitos era inadaptável. Como colocar nas telas, um livro de ilustrações e com apenas nove frases?? Sim, Spike Jonze conseguiu, fez o impossível e mostrou para o público uma das obras-primas do cimema moderno, Onde Vivem os Monstros virou 'cult' e chama a atenção com sua sensibilidade e inteligência. E como o próprio Spike disse, não é um filme infantil, é um filme sobre infância.

por Fernando Labanca





No filme, Max (Max Records), de 9 anos, não compreende as coisas ao seu redor. Não se conforma como sua irmã está crescendo e fica furioso pela fato dela não mais se interessar por brincadeiras, e para piorar, sua mãe (Catherine Keener) não larga o computador, não lhe dando toda atenção que ele deseja. Até que certa noite, quando sua mãe leva o namorado (Mark Ruffalo) para jantar em casa, Max fica furioso, começa a querar chamar atenção, veste sua fantasia de lobo e arma o circo dentro da própria casa, sua mãe não admite tal comportamento e o reprime, é quando ele morde seu braço, ela o bate e o chama de monstro, descontrolado, Max foge de casa.

Sem saber para onde ir, ele corre, desesperadamente, entra num lugar misterioso cheio de árvores, encontra um mar e nele, um pequeno barco, ele, então, decide, embarcar numa grande aventura, sem saber onde vai parar. Até que ele chega numa ilha e para sua surpresa, habitada por monstros. Fica assustado, os monstros eram completamente descontrolados, estavam exaltados e destruindo suas próprias moradias. Max aparece e chama a atenção de todos, e para se manter vivo diante das terríveis criaturas, ele diz que é rei e que veio para governá-los, e por isso, precisa ser respeitado. Eles gostam da idéia, devido ao fato de estarem a muito tempo infelizes com o modo que levam suas vidas, desde muito tempo sabiam que precisavam de mais organização, pois assim, encontrariam a felicidade.

E como primeiro ato de rei, Max se responsabiliza pela felicidade dos monstros, vê que eles estão cansados de tanta infelicidade e diz que seu império só trará alegria para suas vidas. A partir de então, Max começa a elaborar vários tipos de brincadeiras para as criaturas se sentirem felizes. Porém, nada é tão fácil assim, conforme os dias vão passando, o garoto vai percebendo que os monstros são criaturas com temperamento difícil. Há Judith, que adora opinar em tudo e seu parceiro Ira, há o divertido Douglas e o fracassado Alexander, também tem a doce KW, que nunca está presente, sempre tem uma desculpa para estar longe. Porém, Max logo se identifica com Carol, o mais parecido com ele, divertido, adora brincar a todo o tempo e ainda tem seu lado carente, necessitando sempre de um amigo ao seu lado.

E com o passar dos dias, esses monstros vão percebendo que Max não passa de uma criança perdida e nunca seria um rei. E o garoto, por sua vez, percebe que aquele não é o paraíso, e dentro daquelas doces criaturas podem estar os verdadeiros monstros.



Uma sensível metáfora. Onde Vivem os Monstros entra fundo na mente de uma criança, e repito, não é um filme para crianças, é sobre elas. Spike Jonze vai muito mais longe que apenas nove frases, chega ao ápice do complexo, nunca nenhum filme soube estudar tão bem o que é uma criança e como é a infância. Esse período da vida não é tão fácil como parece, e no filme, Jonze fraguimenta todos os tipos variados dos sentimentos de uma criança em diversos monstros, onde cada um representa uma parte de Max, e dentro dele, há alguém que pede por um amigo, há alguém que pede por brincadeiras, há alguém que não entende porque as pessoas que tanto ama são tão distantes, e ao mesmo, alguém que tem medo, e para se sentir mais forte e conseguir enfrentar suas próprias inseguranças, expulsa os monstros que há dentro de si.

É realmente muito difícil chegar a uma conclusão do filme, antes de assistí-lo, achava mesmo que estava prestes a assistir um projeto infantil. Porém, desde as primeiras cenas vi que não se tratava disso, muito pelo contrário, provavelmente, as crianças poderão até odiar o filme, que não tem nada de tão alegre e divertido assim. É um filme complexo para elas, complexo até para nós, maiores de idade.

Spike Jonze, passou a maior parte de sua carreira, dirigindo clips musicais, e no cinema dirigiu poucos, inclusive os elogiados Adaptação (2002) e Quero Ser John Malkovich (1999). Ninguém entende mais do que ele de visual, logo que videos musicais exploram muito mais a imagem do que o roteiro em si. Onde Vivem Os Monstros surpreende, pois além do roteiro magnífico, seu visual é explêndido, uma fotografia de deixar qualquer um de boca aberta, explora as florestas, o deserto de uma maneira fantástica, e tudo fica perfeito nas telas.

A trilha sonora é um charme a parte e também fundamental para o longa que tem pouquíssimas falas e muitas vezes somos guiados pela música, com ela sabemos se a cena em questão é uma cena dramática ou cômica. E mais do que isso, a trilha sonora fala muito no filme, ganha personalidade, principalmente pelo fato de ser cantada por crianças. Quem foi responsável por esse feito, foi Karen O, vocalista da banca Yeah Yeah Yeahs, que reuniu crianças num estúdio e gravou várias músicas, aliás, incríveis.

Difícil falar sobre esse filme. É encantador, me deixou sem palavras durante dias. Inteligente, ousado, original, estiloso, sensível, enfim, um filme marcante. Palmas para toda a equipe, pelo roteiro de Spike Jonze ao lado de Dave Eggers e também pela sua maravilhosa direção. Destaque para Max Records que protagoniza com competência. Trilha sonora e fotografia impecáveis, além de não se entregar por técnicas visuais, dando mais realismo ao longa, onde os mostros, nada mais são que fantasias muito bem customizadas e que ganham vida por seus dubladores extremamente competentes.

E onde vivem os monstros? Dentro de cada um de nós. Fantástico. Um dos melhores do ano!!

NOTA: 10














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